Desafios Climáticos e a Segurança nas Estradas: Como as Concessionárias de Rodovias atuam

Nos últimos anos, a mudança climática tem imposto desafios sem precedentes à gestão de infraestruturas essenciais, como as rodovias que cortam o Brasil de norte a sul. Fenômenos meteorológicos extremos, especialmente chuvas intensas, têm levado a interdições frequentes, deslizamentos de terra e a necessidade de obras de manutenção emergenciais, impactando diretamente o fluxo de veículos e, por consequência, a economia e a vida das pessoas que dependem dessas vias.

A Arteris Litoral Sul, concessionária responsável pelo Corredor do Mercosul, é um exemplo de como estas entidades estão se adaptando a esta nova realidade. Com um trecho que compreende estradas vitais como o Contorno Leste de Curitiba, as BRs-376 e BR-101 até Palhoça em Santa Catarina, a concessionária adota uma abordagem proativa, com monitoramento constante das encostas e uso de estações meteorológicas para antecipar e mitigar os riscos decorrentes de chuvas torrenciais.

No trecho da Serra do Mar, por exemplo, inspeções anuais são realizadas por empresas especializadas para garantir a segurança dos usuários. Tais medidas, embora cruciais, não estão isentas de desafios, como demonstram as recentes interdições de rodovias em várias partes do país, de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul e Santa Catarina, devido a obras emergenciais após chuvas intensas.

A situação se agrava com a previsão de eventos climáticos mais severos, levantando questões sobre a sustentabilidade e eficácia das estratégias atuais de gestão rodoviária. Diante deste cenário, a experiência e o conhecimento técnico de especialistas tornam-se fundamentais para entender os desafios e visualizar soluções.

Conversa com o Especialista

Para aprofundar nossa compreensão sobre como as concessionárias estão enfrentando estes desafios e quais são as perspectivas para o futuro, conversamos com Orlei Baierle, Coordenador de Implantação e Conservação da Arteris no Litoral Sul. Com vasta experiência em gestão de infraestrutura rodoviária, Baierle nos oferece insights valiosos sobre as estratégias adotadas, as lições aprendidas e o caminho a seguir diante do aumento da frequência e severidade dos eventos climáticos extremos.


1 – Como a experiência dos deslizamentos atípicos sofridos nos trechos administrados pela Arteris, como a tragédia que ocorreu em 2022 e os eventos climáticos extremos subsequentes, incluindo ciclones e chuvas torrenciais, influenciaram as estratégias de monitoramento e prevenção adotadas pela Arteris para os trechos de Serra que administra, especialmente considerando a singularidade e a magnitude desses desafios?

Orlei Baierle:
Então, é importante destacar que esses trechos que a gente administra aqui são trechos de Serra. Eles são sensíveis aos impactos climáticos, principalmente chuva forte, torrencial e constante, em um curto espaço de tempo. Os eventos ocorreram lá no final de 2022, nesse ponto exclusivamente da Serra que compõe o km 668/800. Eles são tão atípicos que a gente não tem nem histórico das chuvas que houve naquele período ali de 2, 3 dias, num intervalo muito curto. A gente não teve nem histórico disso nos órgãos que nos dão esses dados de pluviometria. Então, foi um fato atípico. Único até então, na concessão nesse período.

Já tivemos outros deslizamentos na concessão que a gente administra desde 2008, bem no início da concessão. Porém, não dessa magnitude, como naquele período de final de novembro até início de dezembro em que a gente teve no trecho de um pouco mais de 300 km, cerca de 120 pontos de deslizamento. Isso foi geral, tanto na Serra quanto também na BR 101, no trecho de Palhoça. Inclusive, a SEEL já desenvolveu um trabalho lá, emergencial também, na época. Então, este trecho de Serra está sofrendo bastante diante dos eventos climáticos, que estão cada vez mais frequentes.

2 – Considerando o crescente impacto das mudanças climáticas sobre a gestão e manutenção de rodovias, especialmente em termos de riscos geotécnicos e o consequente endurecimento das condições de seguro para concessionárias, como esse cenário está influenciando a atração de investimentos e a sustentabilidade financeira do setor de concessões rodoviárias no Brasil?

Orlei Baierle: A gente observa que as seguradoras já estão mais restritas a realizar seguros e as franquias já estão ficando mais pesadas para esse tipo de serviço que a gente administra. Além disso, todos os taludes são de responsabilidade da concessionária, dentro da faixa de domínio, que administra em torno de 30 a 40 m do eixo da rodovia. Então, começa a se tornar, para a iniciativa privada, falando um pouco de mercado e concessão, um risco geotécnico atrelado. As concessões começam a se demonstrar não tão interessantes para o investidor de fora. Por exemplo, lá na BR 381 de Minas Gerais, que já foram lançados 2 ou 3 editais e até o momento não teve nenhum interessado em administrar essa concessão. 

Falando de mercado, esses impactos provocam negativamente, visto que o risco se torna todo da concessionária. E não é um risco dividido. Se a concessionária for considerar todos esses riscos, a tarifa fica lá em cima e não fica interessante para nenhum dos lados: usuário, poder concedente e poder concessor. Então, isso é uma tendência do mercado que a gente está observando. 

3- Ao enfrentar desafios impostos por estes eventos climáticos extremos, quais são os principais critérios adotados pela Arteris na seleção de parceiros especializados para executar obras emergenciais e mitigadoras de risco, buscando assegurar a eficiência e segurança nas operações rodoviárias?

Orlei Baierle: Na escolha de parceiros para as obras, optamos principalmente por empresas que já tenham trabalhado e que possuem expertise de conhecimento técnico agregado, uma bagagem técnica e que têm um tempo – resposta de atendimento rápido, conseguem mobilizar rapidamente quando corre um evento climático dessa magnitude.

Escolhemos principalmente empresas com essa visão de negócio e também empresas que tenham essa capacidade técnica. Porque não adianta ir com uma empresa pequena que a gente precisa de mão de obra, recursos e equipamentos que hoje a SEEL tem, por exemplo. Equipamentos e pessoas, principalmente, com algumas particularidades, como equipe especializada em acesso por corda. Isso é um diferencial para taludes de maior extensão, mais altos, mais íngremes. A gente vai optar por essa linha, vendo também que a nossa visão é acidente zero seja dos nossos funcionários, assim como dos nossos usuários. A gente preza muito pela questão da segurança e não vamos colocar ninguém em risco. A SEEL tem esse diferencial, talvez no Brasil, entre as cinco melhores empresas do setor. Então, a gente opta muito por esses diferenciais e por essa capacidade de tempo e resposta.